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Você ainda pensa em mim?

  • Foto do escritor: Yilan Ruh
    Yilan Ruh
  • 5 de ago.
  • 2 min de leitura

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O sol passou pela fresta da tarde

e tocou meus ombros

como quem lembrasse

de quando eu quase fui viva,

quase fui tua,

das cartas que queimei sem coragem,

do que inventei —

do que foi desinventado.


Você ainda pensa em mim

quando o céu se apaga às seis?

Ou já me enterrou

junto das lembranças

que esconde embaixo do travesseiro?

As flores da varanda morreram ontem

e eu esqueci de chorar por elas.

Ou por mim.

Talvez eu tenha deixado de regar

o que restou de mim mesma.


Eu amo as pequenas fugas:

os pés descalços na lama morna,

o gosto doce do que nunca dura,

a esperança bêbada de que vai passar.


Eu não fui sempre assim.

Havia luz antes de você,

Riso antes do silêncio.

Mas eu tropecei nos dias,

caí em um passo falso.

Prometo — vou tomar mais cuidado.


Você ainda pensa em mim

nos dias em que o mundo é gentil?

Ou só quando o vazio faz eco

no lugar em que eu morava em você?


Dizem que estou melhor.

Mas ninguém vê os cacos bem organizados

nem os poemas que escondo dos olhos.

Sou feita de tudo que calei.


Eu sinto muito que eu não paro de chorar.

Eu juro: eu mudei.

Mas parece que toda lágrima

é uma parte de mim

voltando para o que já foi.


Você ainda pensa em mim

rindo alto no fim da tarde,

com as bochechas coradas de Sol

e o cabelo bagunçado pelo vento?

Eu também fui leve, um dia,

como quem acredita que vai durar.


Abracei o escuro como se fosse colo.

E agora,

me medico de mim mesma,

como quem tenta apagar um poema

gravado na carne.


Você também sente essa ausência de si

quando o Sol invade o quarto

e ilumina tudo o que fomos —

mas também tudo o que nunca seremos?


Eu fui o meu melhor contigo.

Fui quase céu.

Quase livre.

Mas juro, juro por todos os girassóis:

eu não fui sempre tão deprimida.




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