Tédio
- Yilan Ruh
- 1 de dez. de 2023
- 1 min de leitura

Eu sinto falta do tempo em que escrevia sobre amor. Ás vezes, sinto quase como se o mundo me tivesse roubado uma fração fundamental da minha constituição enquanto sujeito romântico. Ando vendo tudo como um monte de reações químicas e relações de poder e interesse absolutamente destituídas de qualquer beleza e graça. Me falta, nos olhos, a paixão. Me sobra, no peito, a angústia da falta de sentido.
Tudo anda um pouco sem gosto. A comida é insossa e estufa, mas não mata a fome. O vinho traz ressaca, mas não mata a sede. O sexo não satisfaz. Nada satisfaz. Me sinto buscando algo que não tem nome e que sequer sei se existe. Tudo me parece tão desprovido de importância que o tédio da cotidianidade me esmaga.
Aqui e ali, encontro algo que acende uma centelha, que permanece acessa por tempo de menos. Fósforos. Me sinto uma menina que os acende, um a um, apenas para vê-los apagar, vislumbrada, antes de morrer congelada pela neve.
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