Síntese
- Yilan Ruh
- 4 de fev.
- 1 min de leitura

Minha face é um lago em calmaria,
e sob as águas, a tempestade ruge.
Sou forte, sou frágil, sustento a ironia
de meditar no espaço onde o diabo urge.
Cinzento é o mundo, me cobrem os borralhos,
vislumbro montanhas de sonhos desfeitos.
Com agulha e linha, tento coser retalhos
do que ainda não foi queimado; desespero.
Das minhas cicatrizes, faço mapas de dor,
adorno o corpo com as marcas do tempo.
No inferno, procuro fagulhas de amor,
e na poesia eu sangro em silêncio.
Mas vejo no vento um canto distante,
um sopro de vida entre as ruínas frias.
No breu, há lume, centelha errante,
bordando auroras nas noites vazias.
De cinzas eu cubro a minha pele
mas, no peito, preservo o dourado
de um sol cintilante que impele
raízes e flores no solo devastado.
Sou rio que acolhe alegria e lamento,
sou mar que devora, mas também abriga.
Sou luz, sou sombra, alívio e tormento,
sou musa e fúria, furacão e brisa.
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