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Sobre pedras e muralhas

  • Foto do escritor: Yilan Ruh
    Yilan Ruh
  • 22 de set. de 2018
  • 2 min de leitura

Atualizado: 2 de out. de 2023

Hoje andei pensando sobre liberdade. Minto, hoje não: a semana inteira. Acho que os ônibus exercem esse poder sobre mim. Talvez seja o balançar suave, ou o darkwave nos fones, ou banco ao lado, quase sempre vazio, ou as paisagens urbanas, vistas diariamente em pontos onde nunca desci. Ou talvez seja a combinação de tudo isto. Seja lá qual for a resposta, é fato que no ônibus eu pareço entrar em um estado de consciência alterada, e quase sempre encontro respostas para meus questionamentos existenciais nele. O outro lugar é na minha cama, mas isto é mais incômodo, pois normalmente vem acompanhado de noite insones e angustiantes.

Estava pensando nas muralhas que construí ao meu redor ao longo dos anos, na tentativa de me proteger. Enquanto erguia pedra sob pedra, não percebi que trancafiava a mim mesma. Eu era como uma tucana, que arrancava as próprias penas para construir seu ninho seguro, que por fim se transformava em sua masmorra. Eu olho para trás e vejo que encontrei o pior modo possível de lidar com a minha dor: ao invés de gritá-la, eu me isolava cada vez mais e sufocava meus gritos. Me arranhei nas pedras ao longo do processo; as marcas ainda são visíveis na minha pele.

Hoje olho para trás e vejo a minha versão mais jovem, que nunca foi jovem de verdade. Sempre houve uma sombra que encobria tudo, uma tempestade pronta para destruir cada botão de rosa. Gostaria de abraçá-la e dizer que ela não precisa fingir. Que não precisa galgar os degraus da perfeição o tempo inteiro. Que ela é mais que suas notas, suas medalhas, suas dietas para pesar 40 quilos. Gostaria de dizer que ela possui toda a potência de se reinventar e ser quem ela quiser. Gostaria que ela soubesse disto naquela época. Mas tudo bem: hoje ela sabe.

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