Repouso
- Yilan Ruh
- 28 de jan.
- 1 min de leitura
Atualizado: 28 de jan.

Vez ou outra eu queria ser semente.
Dormir no ventre seguro da terra,
longe do caos que habita a mente,
protegida deste mundo que me enterra.
Ser esquecida na soledade do silêncio,
abrigada do vento que me consome,
onde a luz não fosse mero dispêndio.
Apenas existir, sem forma, sem nome.
Cresci depressa, impulsionada pelo ébrio,
sem ter o sol como meu guia e norte.
Tornei-me árvore desnutrida em solo estéril:
minhas são raízes macilentas, disformes.
Esse tronco que se ergue, tão ereto,
tem cicatrizes; cada talho, um registro.
Minha seiva escorre, vermelha, no concreto,
e em cada anel, eu carrego os meus gritos.
Eu não escolhi florescer entre as pedras,
mas fiz do asfalto o berço das minhas folhas,
e do vento rude, o abraço que me eleva.
Se hoje me curvo, é que meu coração me pesa.
Sustento na copa o que faço parecer leve,
e, em silêncio, sou carvalho que não cede.
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