O vazio dos corpos
- Yilan Ruh
- 2 de dez. de 2018
- 1 min de leitura

Eu toco corpos vazios. Suas almas, livres de amarras, voam distantes. Sinto, pouco a pouco, que me esvazio também. Ou será que estive sempre vazia, e só agora abraço minha abertura? A incompletude, a benção e a maldição: a indeterminação que abre possibilidades de existência. E essas, que são tantas, e tantas, e mutáveis, e voláteis... E eu, que sempre amei a estagnação e a calmaria das piscinas, me percebo agora me afogando em um oceano
escuro e revolto.
Uns preenchem o vazio com álcool, drogas, sexo desenfreado. Eu preencho meu vazio com dor. Calo a angústia com meus gritos. Lamento a miséria da existência humana, e me sacrifico ante a chance de poder tornar menor o fardo do outro, carregando-o também em minhas costas. E a sobrecarga, a sobrecarga, ás vezes, me parece insuportável. Mas lidando com a dor do outro, não tenho que lidar com a minha; como um câncer sem tratamento, apenas aguardo que me destrua.
Talvez eu tenha um espírito um tanto masoquista. A ideia de sangrar para que o outro não precise sangrar me agrada.
As dores que nos atormenta também nos trazem vida