Evocação Noturna
- Yilan Ruh
- 17 de abr.
- 1 min de leitura

Diz... diz o que desejas de mim,
que me abro inteira — ventre e alma.
Me faço súcubo, santa, querubim,
transmuto em febre, em cio, em calma.
Pede... clama... exige o impossível.
Juro em lascívia, em sangue, em chama:
ser cicatriz, serpente, cobre, infungível
—leoas não se vestem de dama.
Não quero véus, vestes alvas, nem anéis.
Quero teus dentes rasgando meu pescoço,
fazer das minhas unhas lascivos pincéis,
tatuar minha luxúria no teu dorso.
Quero o fulgor, o instinto, o abismo,
sem couraça, sem pudor, sem oração.
Fazer do corpo um rito cabalístico
que arde entre o êxtase e a devoção.
Sou feita de noites mal dormidas,
de lençóis, de vinho, de encantamento.
Nasci da lua — esfíngica, indefinida
— vem ser meu sonho, suspiro e lamento.
Vem… atravessa o meu abismo,
me conjura entre uivos até a aurora.
Que tua voz seja arauto do erotismo,
e meu corpo, a tela da tua glória.
Se não houver depois, que seja agora.
Se não for para sempre, que arda assim.
Que teu nome me inflame pela demora
— e o meu, amor, te devore até o fim.
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