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Essa é pra falar de amor

  • Foto do escritor: Yilan Ruh
    Yilan Ruh
  • 27 de fev.
  • 4 min de leitura



Dia desses andei com o peito pesado. Penso demais e minha racionalidade, às vezes, ameaça me enlouquecer. Sofro de excesso de reflexão. Tento fazer tudo certo e não consigo me livrar da sensação de que estou errando. E, por excesso de reflexão, sei exatamente onde erro: por medo de depender, afasto aquilo que eu mais preciso.

A gente quer tanto amar e ser amado que chama qualquer coisa de amor. Paixão, tesão, toda sorte de coisas frágeis, momentâneas, mundanas. Já fiz isso também. Já nomeei de "amor" o tesão, a carência, a dependência emocional, a vaidade, a síndrome de Madre Teresa de Calcutá e um sem-número de tapa-buracos existenciais. Hoje, sem mais confundir, sei que só amei uma vez.

Descobri que amor é construção, erguido no tempo, na exposição de nossas almas desnudas, na intimidade, na fé no potencial do outro, na desconstrução do desejo de posse, de subjugar o objeto de nossa afeição para encaixá-lo em nosso universo. É testado no enfrentamento de nossas maiores limitações para que estejamos aptos a estar, verdadeiramente, com alguém. No confronto de nosso ego, de nossas defesas, daquilo que somos, mas que não gostaríamos de ser.

Eu soube que era Amor quando, mesmo sem acreditar em deus, a mais de 1.400 metros de altura, colhendo limões e sapateando depois de pisar em um formigueiro, eu agradeci à algo que não tem nome e nem forma pelo milagre que é existir no mesmo tempo e espaço que você. Soube quando me percebi amando uma nova cor: a dos troncos das árvores antigas, da terra das montanhas, dos teus olhos escuros. Soube quando percebi que, apesar de tantas marcas, eu não mudaria nada na minha história, porque foi ela que me levou até o momento em que te conheci. Soube quando percebi que eu quero fazer grana pra sumir com você, porque quando cê tá comigo, todo espaço vira mundo. Soube quando entendi que eu sou ótima sozinha, mas com você eu sou bem melhor. Soube quando vi o quanto eu me esforço pra tentar pedir e o quanto cê se esforça pra tentar perceber sem que eu precise pedir porque sabemos que eu não sei ser cuidada. Soube quando eu aceitei que eu consigo fazer (quase) tudo sozinha, mas que eu posso aceitar a sua ajuda pra não precisar fazer tudo. Soube quando entendi que as coisas ficam mais leves quando dividimos o peso e que, estranhamente, compartilhar meu fardo com você tem me tornado mais forte. Soube quando percebi que você é a única pessoa que me faz florescer em delicadeza justamente por ser a única que não me encaixa em uma posição de desumanidade, de brutalidade.

Eu soube que cê me amava quando se ofereceu pra se esterilizar só pra que eu não precisasse fazer um procedimento tão invasivo, porque eu estava apavorada, não com a possibilidade de me arrepender, mas de passar um mês dependente de terceiros. Quando aprendeu a gostar de ficar andando no meio do mato só pra acessar vistas bonitas ou a gostar de musicais só porque eu amava musicais e cê amava ver meus olhos brilhando quando me acompanhava. Soube quando cê propôs que a gente acordasse de madrugada pra tomar café vendo o sol nascer no mesmo lugar em que vamos pra ver o sol se pôr. Soube quando cê me deu flores vivas, confiando que eu tentaria cuidar delas, mesmo sabendo que sou um horror com plantas.

Soube quando eu percebi o quanto aprendo com você, o quanto cê me faz questionar minhas verdades. Eu não preciso ir embora pra não aceitar qualquer coisa e a vida pode ser mais que um 8 ou 80. Dá pra ajustar o que não cabe perfeitamente se for junto, dá pra fazer um remendo aqui e ali e tá tudo bem. Quando a gente ama, a gente pode sim se esforçar pra mudar por alguém, porque o amor nos desafia a querer ser melhores pra proporcionar o melhor ao outro todos os dias. Eu mudei, cê mudou e eu sinto muito que a gente não tenha mudado antes, mas as coisas têm o seu próprio tempo e hoje a gente encaixa bem melhor.

Pegando as palavras do Leoni (ninguém poderia dizê-lo melhor): depois de você os outros são os outros e só. Eu quero um chalé, 3 gatos, uma galinha com blusinha de tricot e o teu rottweiler no quintal. Quero nossas viagens de moto e que cê me ature o caminho inteiro pedindo pra gente roubar um bezerro e levar na garupa, mordendo tua bunda quando cê tá distraído e fazendo double biceps enquanto falo que a mãe tá grandona. Quero tuas piadas de quinta série nos dias em que eu tô estourando de TPM, com o réu primário em risco, porque cê sabe que eu rio, mesmo perguntando se cê tá com o Patati Patatá enfiado no uc*. Quero os buquês de girassóis e flores azuis, o teu sorriso bonito e o meu condicionador caro esvaziando rápido demais. Quero andar com teu chinelo e fazer tua camisa de lingerie, quero tua toalha no meu banheiro, uma prateleira tua no meu armário e um espaço teu permanentemente na minha vida.


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