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Das relações

  • Foto do escritor: Yilan Ruh
    Yilan Ruh
  • 14 de jun. de 2021
  • 2 min de leitura

É preciso esforço. Esforço no sentido de permitir-se estar na disposição de uma relação. Esforço no sentido de um enclinar-se sobre a existência de um outro e possibilitar a oferta de um acolhimento. Esforço no sentido de saber que jamais seremos amados como idealizamos e, ainda assim, fazer um esforço no sentido de realizar um trabalho para permanecer.

Em clínica, muito do processo psicoterápico advém deste esforço. O paciente - termo aqui empregado não como sujeito passivo, mas como aquele que se dispõe a angustiar-se na paciência - se permite estar em um espaço que se propõe a lançar luz sobre aquilo que lhe é mais próprio, constitutivo de si mesmo. O terapeuta, o portador da lanterna - suas ferramentas teórico-metodológicas - direciona o feixo luminoso no sentido de, e através de modulações, elucidar aquilo que é Mundo e que é Alma, para que, através de saltos existenciais, o paciente possa estar em um modo de ser próprio, deixando de ser aquilo que não se é.

Mas esforço demanda esforço. E talvez, em tempos de Modernidade Líquida, marcados pela volatilidade, mesmo a demanda de estar na disposição de algo parece um grande risco. Se tudo muda tão rapidamente, que garantias possuímos de que, logo, algo melhor não aparecerá? Por que forjar vínculos se tudo se torna obsoleto em um piscar de olhos e o tédio, a ânsia por novidades - e porque não? - o receio de sermos substituídos por um modelo mais atualizado antes que o façamos se apossam de nós? Não há espaço para a inutilidade - isto é, a adoção de uma postura contemplativa, que visa nada mais que a coisa em si - talvez porque a marca de nosso tempo é a instabilidade, e se não servirmos ao que nos foi proposto, poderemos, em breve, ser descartados também.

Talvez, disto advenha o tal "fracasso nas relações", tema constante em discussões de múltiplos espaços. Estamos no esforço de fazer um contra-esforço: nossos corpos estão em empuxo. Não nos permitimos demonstrar afeto por medo - medo de rejeição, medo de que o outro queira permanecer -; não nos permitimos permanecer porque relutamos em dar conta do que permanecer traz; não nos permitimos estar na disposição de uma relação porque isto demanda vínculo, e nos acostumamos rápido demais à lógica de conexões e desconexões das redes. Na ânsia da busca pela liberdade, nos fechamos para as suas possibilidades; perdermos consciência de nossas escolhas e, consequentemente, nossa responsabilização por elas. Tanto medo!

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