Cansaço
- Yilan Ruh
- 24 de mar. de 2024
- 1 min de leitura

Sou a flor roubada, ainda em botão, e apodrecida na calçada.
Sou poeira que causa irregularidades sob o verniz do ébano.
Sou o corpo jovem que, por três vezes, tentou subir ao cadafalso.
Tropecei na descida; parti o pescoço ante minha própria covardia.
Eu sou a oração pronunciada pelo padre que perdeu a fé.
O salmo 91 não me salva da escuridão que há aqui dentro.
É que eu aprendi a não temer o mundo se faço meu próprio tormento.
O livro não tem função alguma nas mãos do analfabeto.
Por dez vezes tentei ser meu chão, paredes e teto;
fui leão, fui serpente, fui inferno.
Desci sobre mim mesma;
soterrei, sufoquei.
Eu assisto a beleza morrer
Perdida nas mãos fechadas de um deus
cruel.
Cego, surdo e mudo para a miséria humana.
Ou será que não me faço demasiado miserável?
Talvez seja porque ficar de joelhos me dê ânsia.
Se for pra ser escrava, Domini é Orgulho, Arrogância.
O mundo, cheio;
os corpos, vazios;
a vida, desprovida de sentido.
A cortina não se abre;
a atriz performa para uma plateia vazia.
A luz não se acende.
Amar me faz morrer em vida.
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